sexta-feira, 7 de maio de 2010

O pobre profeta da desgraça

Acho que já cheguei longe demais
Pra um pobre e sujo menino catarrento, fiz façanhas
Cheguei longe mesmo, pois atravessei as montanhas sozinho
Passando fome e passando frio.
Dormindo emaranhado à solidão.
Mas foi tudo capengando.
Já disse e repito.
Minhas lágrimas mostram mais uma vez
Sozinho, não consigo
Eu repito mais uma vez
Sozinho, não consigo.
Já disse isso várias vezes olhando em vários olhos
E suplicando favorzinhos.
Minhas súplicas não valeram a preocupação dos outros
Pelo menos foi o que me mostraram.
Estão mais preocupados com seu lanchinho diurno e sua dor de dente.
Saio pra rua. Grito mais alto.
Hey! Sozinho, não consigo, preciso de ajuda.
Mas agora não sou tão humilde assim.
O opróbrio, também, já passou da conta, né!
A vida nem me recompensou pelas bondades que fiz.
Pelo contrário, a cada dia me dava mais socos na cara.
Pois bem, não me importo mais.
Que Deus derrame todo seu descaso sobre suas tribulações
E que chore todos os dias, depressivo e doente,
pequeno e tão insignificante diante de seus problemas.
Eu limpo meus pés e tiro a poeira do seu quintal
que impregnou em meus sapatos.
Espero que ela mate sua fome e cubra sua desgraça.