sexta-feira, 16 de maio de 2008

A contracultura cristã invertida

Em um desses sábados comuns, em que a TV descarrega seu lixo diminuidor de cérebros desocupados, mudei minha concepção a respeito de devoção a Deus e testemunho. O programa era do Raul Gil, a atração era Ana Paula Valadão, assunto homenagem ao Diante do Trono.
O conceito que tinha, quando comecei a assistir ao programa, era de que uma pop star gospel patricinha, tomada pela soberba e pelo orgulho, seria homenageada. Massagearia seu ego em um programa falso, com intenções falsas. Usaria da oportunidade de estar em rede nacional para proporcionar um upgrade na carreira e conseguir mais fãs fora do meio evangélico. Afinal, pra isso serve esses programinhas “superlegais” da TV. E qual artista não faria isso. Faz parte. Esse era meu conceito. Também é o conceito de muitas outras pessoas que os conhece e é maior ainda na cena underground cristã.
Qualquer um que faz parte tenha freqüentado um ajuntamento ou já tenha andado com cristãos que se dizem underground sabe que qualquer movimento que não seja de contracultura não tem vez. E sabe também que os verdadeiros cristãos e a verdadeira forma de viver o cristianismo para eles é a forma alternativa. O TRE, sem hipocrisia, verdadeiro, brutal, de macho, certo, invencível, e nele, qualquer programa de um apresentador que tem o microfone de ouro é coisa do capitalismo. Lugar onde um cristão de verdade nunca colocaria os pés.




Foi então que comecei a assistir ao programa e algo me chamou atenção no meio daquela mediocridade fingida que se costuma ver. Bajulação aqui. Homenagens e homenagens. Sorrisos amarelos. Tudo como sempre é. O mesmo discurso maquiado da indústria cultural (um salve a Adobe). Mas algo me incomodou. A forma da cantora falar de Jesus era como o barulho da maquininha do dentista quando obtura os dentes. Entrava pelo ouvido e batia com força no cérebro que, por sua vez, demorava a assimilar aquilo. Era difícil de engolir.

A forma de como ela sempre colocava Jesus em todos os assuntos era intensa. Sempre declarava que a verdadeira vida é a partir de um relacionamento com Deus e que somente Ele tem o controle de tudo e é soberano. Tudo isso foi de encontro aos meus conceitos e pré-conceitos. Me fez lembrar da cena underground cristã, dos que se dizem cristão underground e de contracultura. Constatei que o discurso mais maquiado não é o da “pop star gospel”.
Lembrei das bandinhas underground que costumo ver nos shows. Os “excluídos pela igreja hipócrita” que está “contaminada” pelo dinheiro. Então percebi que são os cristãos alternativos os mais tomados pela vaidade. Com o coração enganado, esqueceram que a mensagem é mais importante que o meio pelo qual ela é passada. Esqueceram que ouvir o som mais pesado não faz ninguém melhor que ninguém e que um piercing no SEPTO e a orelha mais alargada não quer dizer que é mais importante.






Os que se diziam mais excluídos começaram a excluir. A só levar em conta as características estéticas e estereotipar quem não se identificava. Agora tomados pela vaidade de ser underground, ter o ego saciado pela admiração vã, fizeram com que sua devoção se tornasse morta em essência. A muito o relacionamento com Deus, sem se preocupar com reputação, ficou guardado na gaveta. E o que não conseguem enxergar é que o que estão vivendo está em contradição com seu discurso. Nisso não se gera mais frutos. Os galhos apodreceram pela vaidade e peça indiferença.
É a hora de abrir os olhos. Ficar em silêncio em relação aos que são diferentes. Deixar de lado a vaidade e viver a simplicidade. Deixar de atacar os que atacaram antes e não cometer o mesmo erro que eles. Destruir o preconceito, os estereótipos, os paradigmas ordinários. Ao invés de ser conhecido como o legal alternativo, se expor como cristão humilde, seguidor de Jesus, que não se vende pelas circunstâncias.