sábado, 20 de junho de 2009

Mereça

- Já te disse que você merece o mundo? Mas tenho tão pouca coisa aqui.
- Você não pode me dar nem o seu mundo, como quer me dar o mundo todo?
- Eu quero. Não basta querer?
- Basta não. Dói te dizer isso.
- Desculpa.
- Aqui não é lugar pra pedir desculpa. Ninguém se ilude por maldade, tanto quanto quase ninguém brinca de conquistar por querer ver a dor alheia.
- Eu posso te agradecer?
- Acho melhor não.
- Acho que não sou capaz de te dar o último beijo.
- Pode deixar, as lágrimas se encarregam de tocar minha face quando você sair. E saiba de uma coisa só. Precisa ficar receoso não.
- Eu vou ficar com uma foto nossa.
- Eu fico bem. Só mesmo vou pensar em razões denovo.
- Será que um dia eu vou acordar e ter que abrir os olhos? Me arrepender?
- Talvez... Talvez...


sexta-feira, 12 de junho de 2009

Tributo a Chico Pedrosa



Escrevo sobre um quase homem
Poeta, simples, por circunstâncias de, às vezes, escrever
Nem sempre coerente, mas sincero nunca deixa de ser
Em dias, deixou pra trás o que acreditava quando criança
Mas é tão óbvia sua volta que os pais nem se preocupam
O mundo precisava de mais quase homens como esse
Dono de dores e preocupações da possível felicidade alheia
O mundo se torna melhor por ele existir
Nada tem demais, pelo contrário; de menos
Sensibilidade, e falta de maldade
Use suas armas sem medo Chico
Você é diferente porque tem que ser

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Aprender

O menino magricelo, virou a esquina apressado. A cabeça pensava mil coisas, incomuns. Coisas novas e indefinidas. Do narizinho pontudo escorria sangue, escuro já. Gritou pra sua irmã perguntando se iria morrer. Ela disse: acho que não sei e tenho certeza que talvez. Como as pessoas que mais te fazem bem, também são as pessoas que mais te fazem mal? Elas sabem seu ponto fraco né? O menino aprendeu a andar de bicicleta. Esperto, mas empolgado e fraquinho se esborrachou no chão, bem na rua de alfalto. Apesar do tombo, ele aprendeu a andar de bicicleta. E apesar de ter apredido a andar de bicicleta, ele ainda está aprendendo que sangue no nariz não é sinal de morte imediata. Sangue no vômito, talvez. Ele aprendeu. O abraço da mãe compensou tudo. Ganhou o mundo. Pelas explicações dela aprendeu a aprender como um escritor antigo, mas moderno. "Que o AMOR, e não o TEMPO, é que cura todas
as feridas;"*



*Fragmento de Coisas que aprendi, William Shakespeare.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Para Laís

Pensava ela em se tornar melodias
Ao contrário de ser quem não é canção
Ria descontraída em seus dias
A esperar de outrem esta “Lais” invenção

Linda garota em preto e branco
Acabrunhada pela cerâmica fria
Invisível, às vezes, em seu canto
Só recuperando a radiante alegria

Simplicidade contagia.




*Foto: Skye Suicide

Se é aqui, o lugar, o tempo e a possibilidade:

O cabelo da mocinha parecia de plástico
Brilhava, alisado, como os de boneca
Ela, negra, se cuidava como mocinha

Os olhos da outra lacrimejavam a brilhar
Tentava se fazer de forte como se tivesse coração de plástico
De si mesma, às vezes, tinha dó como por ser a outra

O sorriso do jovem rapaz alegrou a quem viu, satisfação
Entregou o último folheto no sinal com suor na testa em brilho
Com as mãos no bolso da jaqueta saiu a gingar como jovem

Os olhos, seu nariz e o queixo dele são simétricos
Que trocador bonito. Podia ser modelo e arrasar nas passarelas
Prefere não se expor assim, só malhar os corações das donzelas

Se se encontrassem, não apenas nos olhos e no texto de quem escreve a vida deles nem talvez seria assim. Mas se é aqui, o lugar, o tempo e a possibilidade:

O trocador não chamou a atenção da mocinha, mas se nas intenções foi tomado pela cobiça, fez de sua maria, a outra amargurada.A outra apaixonada chora em bancos de praça, pensa em ser quem é, espera o dia de sua certeza e pensa no sorriso que viu. De supetão, queria ser dona daqueles dentes. Mas dona deles é uma mocinha de cabelo de plástico, noiva do rapaz que também lhe tem amor. A mocinha olhou o trocador, mas o coração só bate mesmo é por quem a gente tem amor.